Carver, o contista

quarta-feira, dezembro 8


Muitos assistiram ao filme Short Cuts, de Robert Altman. Poucos, porém, conhecem as circunstâncias em que o filme foi concebido. Altman reuniu, numa única história, personagens distribuídos em vários contos pelo contista e poeta norte-americano Raymond Carver (1938-1988). Carver teve uma infância difícil (classe trabalhadora, pai violento), uma juventude conturbada (casou-se aos 19; com 20, já tinha dois filhos), mas nada que se compare com os dez anos em que se entregou ao álcool. O próprio Carver identifica o dia 2 de Junho de 1977 como o mais importante de sua vida: foi a data em que abandonou definitivamente o vício. Viveu os dez últimos anos da sua vida (sóbrio) em Port Angeles, Washington. Em 1988, sucumbiu com cancro no pulmão: ao contrário do álcool, o fumo foi um vício que nunca abandonou.

Raymond Carver consagrou-se como contista. Nessa área, é incontestavelmente um dos maiores nomes do seu século. Se se gostar de Tchekhóv, O. Henry, Hemingway, Sherwood Anderson, John Cheever, pode ler-se Carver, pois ele insere-se nessa tradição: é um fino observador do quotidiano, do prosaico, do comum. Contudo, também como poeta, Carver compôs uma obra de grandes qualidades. Talvez pelo facto dos seus poemas se assemelharem aos seus contos: «Escreva poesia ou prosa, o que pretendo é contar uma história.» (Entrevista concedida a David Koehne, 15/04/78). Carver admirava a instantaneidade do poema e do conto, que proporciona resultado e satisfação imediatos. «Para mim, seria decepcionante trabalhar num romance durante meses e perceber no final que não resultava.» Aqui, partilha da perspectiva de Põe, que preferia o conto aos outros géneros, por que «se lê de um só fôlego».
sobre Carver

0 comentários: