sábado, dezembro 11
Dou os meus passos com frequência por Lisboa. Caminho naquela confusão citadina que todos conhecem ou de que ouviram falar. E sucedeu que uma vez - no meio da agitação da gente apressada - pousei os olhos numa frase diferente, pintada na chapa de um autocarro. Era de Almada Negreiros. Dizia ele, ali no amarelo do autocarro, que se alimentava do silêncio...
Veio-me logo à cabeça o contraste, pois estava no ambiente ideal para isso. Nós hoje já não nos alimentamos do silêncio. A verdade é que - muito pelo contrário - fugimos dele. Ligamos a televisão quando estamos sozinhos em casa, mesmo que não olhemos para ela; levamos música quando prevemos uma viagem ou um espaço vazio no dia; vamos descansar do trabalho para uma discoteca. É saudável, sem dúvida, o desejo de companhia, o gosto por estarmos ocupados; a música e, até, o bulício. Somos gente do mundo e este é o nosso lugar, do qual tanto gostamos. Precisamos do trabalho, do ruído, da agitação para nos sentirmos vivos.
Porém, faz também parte da nossa natureza o recolhimento. Somos seres racionais: os nossos gestos deviam ser pensados; os nossos sentimentos e as nossas intenções deviam ser analisados; devíamos avaliar o significado dos acontecimentos; era preciso que forjássemos uma opinião acerca de muitas coisas, novas e velhas. Devíamos construir os nossos princípios a partir de dentro, e não com base em meia dúzia de anúncios publicitários, no que ouvimos no café, na novela ou no noticiário, ou no que lemos num livro que uma grande campanha publicitária colocou na moda.
O silêncio permite-nos ter uma vida por dentro, qualquer coisa que flutua por cima da pressa, da confusão das sensações, das notícias de jornal. Qualquer coisa que - para dizer de outra forma - permanece em sossego, como o fundo do mar, muito longe do reboliço superficial das ondas e do vento.
É pelo silêncio que se entra nesse lugar. Todos devíamos ter um pouco de pastor ou de marinheiro, os clássicos vizinhos dos grandes horizontes e das estrelas.
É dentro de nós que nos podemos conhecer a nós mesmos e conhecer verdadeiramente o que são as coisas e as pessoas e os acontecimentos. Dentro de nós é que havemos de encontrar as sementes do ideal, do sonho nobre, da força para resistir e avançar. E se houver Deus é dentro de nós que O podemos conhecer bem. Por que fugimos, então, de estarmos a sós connosco mesmos? Por trás de uma série de razões superficiais - não totalmente verdadeiras - como a falta de tempo, de gosto, de hábito ou de paciência, existe um único motivo real: temos muito medo da verdade; receamos pensar naquilo que nos pode complicar a vida. [...]
Veio-me logo à cabeça o contraste, pois estava no ambiente ideal para isso. Nós hoje já não nos alimentamos do silêncio. A verdade é que - muito pelo contrário - fugimos dele. Ligamos a televisão quando estamos sozinhos em casa, mesmo que não olhemos para ela; levamos música quando prevemos uma viagem ou um espaço vazio no dia; vamos descansar do trabalho para uma discoteca. É saudável, sem dúvida, o desejo de companhia, o gosto por estarmos ocupados; a música e, até, o bulício. Somos gente do mundo e este é o nosso lugar, do qual tanto gostamos. Precisamos do trabalho, do ruído, da agitação para nos sentirmos vivos.
Porém, faz também parte da nossa natureza o recolhimento. Somos seres racionais: os nossos gestos deviam ser pensados; os nossos sentimentos e as nossas intenções deviam ser analisados; devíamos avaliar o significado dos acontecimentos; era preciso que forjássemos uma opinião acerca de muitas coisas, novas e velhas. Devíamos construir os nossos princípios a partir de dentro, e não com base em meia dúzia de anúncios publicitários, no que ouvimos no café, na novela ou no noticiário, ou no que lemos num livro que uma grande campanha publicitária colocou na moda.
O silêncio permite-nos ter uma vida por dentro, qualquer coisa que flutua por cima da pressa, da confusão das sensações, das notícias de jornal. Qualquer coisa que - para dizer de outra forma - permanece em sossego, como o fundo do mar, muito longe do reboliço superficial das ondas e do vento.
É pelo silêncio que se entra nesse lugar. Todos devíamos ter um pouco de pastor ou de marinheiro, os clássicos vizinhos dos grandes horizontes e das estrelas.
É dentro de nós que nos podemos conhecer a nós mesmos e conhecer verdadeiramente o que são as coisas e as pessoas e os acontecimentos. Dentro de nós é que havemos de encontrar as sementes do ideal, do sonho nobre, da força para resistir e avançar. E se houver Deus é dentro de nós que O podemos conhecer bem. Por que fugimos, então, de estarmos a sós connosco mesmos? Por trás de uma série de razões superficiais - não totalmente verdadeiras - como a falta de tempo, de gosto, de hábito ou de paciência, existe um único motivo real: temos muito medo da verdade; receamos pensar naquilo que nos pode complicar a vida. [...]
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